ENTARDECER DE CHUVA
Como lágrima na face do rosto Chove torrencialmente no pinhal, Escoa-se a chuva que morre Nos penedos por onde escorre Com eco abafado e desigual Pelas quebradas ao sol posto.
Gemem carros pelo caminho Em estridente e agudo canto, Carregam pinheiros pesados Pela resina ensanguentados, Enquanto o vento com pranto As ovelhas afaga de mansinho.
Sacudido por brisas frescas Baloiça o pinhal ao vento, Cai copiosa chuva na sama Que ao rebanho serve de cama Na busca do viçoso alimento Escondido entre as giestas. No outeiro soam baladas Que na flauta toca o pastor E o rebanho atento escuta Na azáfama e dura luta Do viver e do seu labor Num ecoar pelas quebradas.
O sol adormece no seu leito, A sombra alastra lentamente, Invade o barroco adormecido Como fantasma que anda perdido Nas entranhas do vale dormente Por onde corre riacho estreito.
Cheia de silêncio e nevoeiro Cerra-se a noite moribunda, Enquanto o cão atarefado Conduz o rebanho apressado No pinhal onde o escuro abunda Rumo ao curral estrumeiro.
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